Saturday, March 31, 2007

Paul Graham




Paul Graham é um dos meus fotógrafos de eleição. Adquiri recentemente duas excelentes publicações da sua autoria:

Empty Heaven e End of an Age.

São dois trabalhos editados pela extinta Scalo, e impressos pela Steidl, daí que a qualidade das reproduções seja imaculada.
Paul Graham não é um fotógrafo "fácil", no sentido em que as suas imagens são construídas de modo a que a leitura não seja imediata, sendo o sentido delas o resultado da sequência das imagens e do contexto em que foram produzidas. Graham preocupa-se com questões que tanto podem ser políticas (o seu trabalho na Irlanda intitulado Troubled Land é um bom exemplo disso) como a forma como lidamos com a nossa memória do passado.

"From 1988-1992 I was travelling around Western Europe, and became interested in the weight that the past exerts on each society, the burden of history if you like, and how this entwines with daily life - this became a major theme of my work New Europe. These concerns were developed when I travelled through Japan, a society which has a traumatic recent history, to say the least, yet on the surface seemed to reflect a huge collective amnesia. This provoked questions about wrapping, or masking of history and power, and how this is woven into the fabric of conscious and subconscious Japan" Paul Graham

O seguinte link tem um artigo bastante interessante sobre Paul Graham.

"Photography is a medium with a unique and particular link to reality. Previously there was no problem about this, the world was out there, and you simply had to put your camera over your shoulder and go out with an open heart and head to observe this reality. This was the 'old consciousness' if you like. The problem is that over the past two decades our perception of reality has changed from something 'out there' to something 'within us', a blend of external, internal, past and present stimuli, personal and collective beliefs, mediated and original ideas..."

Fica também um link para uma entrevista a Graham a propósito da exposição Cruel and Tender na Tate Modern.


Stephen Shore



Ontem assisti a uma conferência de Stephen Shore, cujo trabalho aprecio bastante. Quem teve a oportunidade de assistir à conferência de Stephen Shore na Gulbenkian o ano passado, pode comprovar a experiência de Shore como conferenciasta, talvez fruto dos seus longos anos de trabalho, quer como fotógrafo, quer como professor e coordenador do curso de fotografia no bard college em Nova Iorque. Ao ver um curto resumo da carreira de Shore durante a conferência, fiquei a pensar por que razão o trabalho de Shore não é tão divulgado e reconhecido. Apesar de a importância da sua obra ser reconhecida pela maioria dos fotógrafos contemporâneos, Shore nunca foi alvo de grandes retrospectivas nos principais museus. Quando questionado por um membro da assistência, se ainda se preocupava com o seu lugar no mercado artístico, este fez uma pausa (Shore nunca responde de imediato, pondera cada resposta por alguns segundos) e diz que embora não ignore o mercado artístico, tem a perfeita noção de que as opções que tomou não facilitaram a sua aceitação no mercado artístico; diz ainda que se quisesse vender mais, teria continuado a trabalhar com a máquina 8x10, o que lhe permitiria fazer grandes ampliações fotográficas (tão em voga no mercado da fotografia contemporânea). Mas não foi essa a sua opção.
O caso do Stephen Shore é mais um exemplo do que o mercado da arte por vezes não é a melhor forma de avaliar a importância da obra de determinados autores, mas sim quais os autores cuja obra sofreram maior especulação e maior visibilidade artística. Não me parece que isto seja uma grande novidade...

Thursday, March 29, 2007

capas dos Sonic Youth


fotografia e música


Eugene Smith «From my Window, I Sometimes Glance»
1957-1958


Os Sonic Youth usam imagens de outros artistas para as suas capas e, por sua vez, também eles são usados por outros artistas, para promover o seu trabalho. A influência entre as mais variadas artes é bastante rica e enriquecedora. Lembro-me por exemplo de W. EUGENE SMITH, que numa fase posterior do seu trabalho, se fechou no seu estúdio a imprimir fotografias e a ouvir discos antigos de Jazz e a fotografar unicamente o que via através da sua janela. Não sei como, mas faz tudo sentido...


Raymond Pettibon


William Eggleston




Raymond Pettibon


Existem associações visuais que me parecem pertinentes, mesmo quando são fruto do mero acaso. Neste caso, não sei se Raymond Pettibon fez o seu desenho a partir da fotografia do Eggleston, ou se simplesmente o modelo da lâmpada é tão universal que se repetem os motivos.
Conheço o trabalho de Pettibon da excelente capa do disco Goo dos Sonic Youth, que ainda hoje me parece uma das melhores capas de discos que já vi. Os Sonic Youth costumam ilustrar os seus discos com obras de artistas; por exemplo, a capa de um outro disco, Daydream Nation, é um quadro de Gerhard Richter.

As capas estão no post seguinte.



Wednesday, March 28, 2007

Bernd and Hilla Becher


Pediram-me há tempos para contar algumas das histórias que ouvi durante o curso de fotografia do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística, o qual tive a oportunidade de frequentar. Foram imensas as histórias partilhadas pelos tutores do curso mas uma em especial ficou-me na memória. Não consigo ser preciso em todos os detalhes mas aqui fica.

O casal Becher costuma viajar durante um período do ano à procura dos seus temas, de modo a poderem construir as suas topologias, quer vão de estruturas industriais a depósitos de água, etc. Nas suas viagens recorrem muitas vezes a velhos mapas tipo Michelin, onde por vezes existem indicações da existência de parques industriais, por exemplo, ou noutros casos deslocam-se de localidade em localidade e, através da memória dos habitantes locais, conseguem as indicações para encontrar outras estruturas que não estão datadas.

Numa dessas viagens por uma localidade rural, não sei agora se em França ou na Alemanha, depararam-se com um velho depósito de água numa propriedade. Apresentaram-se ao proprietário da casa, explicaram-lhe o seu trabalho e tiveram autorização para fazer a fotografia. Mas ao aproximarem-se do depósito de água, apercebem-se de que não conseguiriam ter o melhor ponto de tomada de vista da imagem (a colocação da câmara tem de obedecer a um rigoroso plano de tomada de vista, na maioria dos casos, frontal, para a estrutura topológica dos seus trabalhos resultar): havia um conjunto de pequenas árvores que bloqueavam parte da estrutura. Voltam a falar com o dono da casa e explicam-lhe a situação. Com o seu consentimento, encontram uma solução: cortar as árvores. Importa aqui realçar que os Becher não trabalham com assistentes e não são propriamente um casal novo, mas sim já com alguma idade. Assim, para a tomada de uma única fotografia, Bernd Becher passa o dia a cortar as árvores que obstruíam a estrutura para construir uma única imagem.

Acho esta história é significativa para melhor entender a forma séria e dedicada de trabalhar dos Bechers. Por vezes as melhores imagens não se encontram por mero acaso mas há que ir à procura delas. E mesmo quando as encontramos, há que saber contornar os eventuais obstáculos que se colocam aquando da tomada de uma imagem, sejam umas "simples" àrvores, seja todo o manancial de referências visuais que por vezes nos toldam a mente.

Há ocasiões em que a prática fotográfica não é tão literal como o anúncio da Kodak: Just point and shoot, and we'll do the rest.

Thursday, March 22, 2007

Hannah Starkey




Vi há pouco tempo uma exposição da Hannah Starkey na galeria Maureen Paley em Londres. Starkey encena todas as suas imagens e o seu trabalho versa sempre o universo feminino. Esta exposição apresentava trabalhos novos que podem ser consultados no site da galeria.

www.maureenpaley.com

No entanto, há um grupo de imagens de Hannah Starkey que me ficaram na mente desde o momento em que as vi pela primeira vez. É um conjunto de imagens que a autora realizou em 1999 (os títulos das imagens são sempe as datas em que são realizadas) sobre adolescentes. Existe uma espécie de tempo suspenso nestas duas imagens que me fascina. A narrativa das imagens é completamente aberta, o que nos permite as mais variadas interpretações sobre as relações entre as personagens e o espaço físico da imagem. Um outro factor bastante importante é o facto das imagens, apesar de encenadas, manterem uma estética de snapshot, como se o momento que estamos a presenciar fosse algo fortuíto, um acaso feliz. Não há aqui instantes decisivos bressonianos mas sim encenações decisivas.


Monday, March 19, 2007

Brian Lestberg & Jeff Wall


"An Octopus" (1990), Jeff Wall





Two Pheasants, McClusky, ND, (2005), Brian Lestberg



A história da fotografia, tal como outras artes, está repleta de referências visuais que provêm das mais variadas esferas. Por sua vez, o nosso vocabulário de imagens é cada vez mais vasto ( a internet, por exemplo, tornou o acesso às fontes de informação mais fácil). Como muitas referências são as mesmas (mestres da pintura, por exemplo), há trabalhos que se aproximam, quer pela temática, quer pela composição.

As duas imagens em cima são bastante interessantes pois apresentam uma composição bastante semelhante: são duas naturezas mortas, e em ambas as imagens existe uma iluminação artificial e um enquadramento (composição) clássico. Não sei se a fotografia de Brian Lestberg foi influenciada pela imagem de Jeff Wall, que por sua vez foi influenciado pelos pintores clássicos. O fascínio de ambas as fotografia é para mim mais importante do que a questão de saber quem é o original ou quem é a cópia.


daido moriyama part2



Para quem estiver interessado no trabalho do Moriyama, existe uma publicação dos trabalhos dele intitulada Daido Moruyama Remix, que compila algumas das suas séries. Muito recomendável.


Daido Moriyama e os fotógrafos japoneses


Nobuyoshi Araki






daido moriyama


Ainda a propósito dos fotógrafos japoneses, há uma publicação da Aperture intitulada Setting Sun: writings by japanese photographers. Trata-se de uma compilação de textos de fotógrafos como Daido Moriyama, Nobuyoshi Araki, Masahisa Fukase, Shomei Tomatsu, entre outros.

Num dos textos, Daido Moriyama fala do seu processo de trabalho:

"And while I'm travelling, I take photographs that are guided by my feelings and physical obsessions or fetishes, so my pictures often have nothing to do with local character and universality. But I am not interested in capturing the character and «universality» of a place, even if it is the place to which I chose to travel. In other words, photographs I take while on a trip are the commemoration of the fact that I
existed in that place or that I happened to see something there - they are not the commemoration of my visit."


É interessante ler estes textos e perceber a relação «quase» zen que alguns dos fotógrafos japoneses estabelecem com a imagem. É interessante também perceber como muitos destes autores optam por trabalhar nas zonas onde vivem, como se estivessem fisicamente «presos» à realidade que os rodeia. É como se fotografassem não para viver, mas antes como se vivessem para fotografar.

Friday, March 09, 2007

wolfgang tillmans





Por vezes morar numa grande capital permite encontros bastante inesperados. Esta semana decidi ir à zona de Bethnal Green fazer uma fotografia de um espaço que me tinha ficado na mente desde que lá tinha ido. Quando me dirijo à rua onde se situa a galeria Maureen Paley, deparo-me com o fotógrafo Wolfgang Tillmans. Apresentei-me e tivemos uma pequena conversa, tendo ele me recomendado a visita à pequena galeria que ele dirige, situada no seu estúdio.
Fica aqui o link:

www.betweenbridges.net

É sempre agradável quando conhecemos alguém cujo trabalho admiramos e essa pessoa é simpática e acessível. Wolfgang Tillmans é uma dessas pessoas. Acredito que o trabalho dele seja reflexo disso.

Gabriel Orozco


"Atomists: Making strides (in 2 parts)"
Gabriel Orozco


Ainda a propósito do post «artist using photography», a citação abaixo transcrita de Gabriel Orozco é um bom exemplo do enorme abrangência não só utilitária como também conceptual da fotografia.


“Looking through the lens of the camera doesn't intensify experience. It just frames the object. It's much more intense without the camera. For me photography is like a shoebox. You put things in a box when you want to keep them, to think about them. Photography is more than a window for me; photography is more like a space that tries to capture situations. It's notational. I use the camera like drawing.” — Gabriel Orozco


Tuesday, March 06, 2007

anders petersen part2


STOCKHOLM 1996



"I seek confidence in destitution. The desire to be surprised by the unpredictable, and the wish to get close to other people, thats´s what counts."
Anders Petersen

anders petersen



KARL-AXEL, BJÄSTA 1991
© Anders Petersen

Stockholm, 2000
60 x 50 cm, © Anders Petersen

Karlstad, 1993
60 x 50 cm, © Anders Petersen


Um outro fotógrafo a trabalhar em preto e branco é Anders Petersen, que está nomeado para o Deutsche Börse Photography Prize 2007, cuja exposição está patente na Photographer's Gallery em Londres. Ainda a propósito do uso do preto e branco de que falei num post anterior, Anders Petersen recusa a cor para exprimir a forte visceralidade das suas imagens e dos ambientes que atraem o seu olhar artístico. Um autor a descobrir com urgência.

"I can´t describe reality; at the most, I can try to capture things
that seem to be valid, the way I see them."
Anders Petersen

dark



"dark flower"
lambda print
50x40cm


Embora os meus trabalhos sejam habitualmente luminosos, ultimamente tenho-me sentido atraído pelo lado mais negro da realidade. Por vezes precisamos de mergulhar na escuridão para descobrir a luz...

Masahisa Fukase




Nayoro, 1979
gelatin silver print
16 x 20"

Shibuya, 1985
gelatin silver print
16 x 20"


Há uma forte ligação entre a fotografia japonesa e o preto e branco. Quando penso em fotografia de autores americanos penso automaticamente em cores (exceptuando, é claro, Walker Wvans, embora também ele tenha feito umas magníficas polaroids numa última fase da sua vida). Quando penso em fotografia japonesa só consigo pensar a preto e branco. Pergunto-me se o facto de a maior parte dos autores mais conhecidos terem nascido pouco antes ou depois da 2ª Guerra Mundial, período bastante traumatizante na história do Japão, será uma das razões para o "negrume" das suas imagens...

Homo Migratus na Fundação Calouste Gulbenkian


Inaugura hoje na Fundação Calouste Gulbenkian a exposição Homo Migratius.

Exposição no âmbito do Fórum Imigração, com fotografias de: Daniel Malhão, Carlos Lobo, Duarte Netto, Bárbara Pacheco, João Paulo Serafim, José Pedro Cortes, Manuel Sousa, Sónia Ferreira, Soraya Vasconcelos. Nove fotógrafos (alunos do Curso de Fotografia do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística) apresentam um puzzle de imagens trabalhando sobre o binómio Convivialidade / Multiculturalidade em Portugal.

Exposição de fotografia
Exposições
De 06/03/2007 a 01/04/2007
10h00 às 18h00
Piso 01 do Edifício Sede.