Tuesday, December 11, 2007

Eggleston


William Eggleston, Louisiana, 1972

Existem autores incontornáveis na história da fotografia. Eggleston é um deles. Quanto mais imagens de trabalhos antigos surgem através de novas publicações (como o excelente livro 5x7 publicado pela Twin Palms Publishers), mais evidente se torna a influência do seu trabalho na fotografia contemporânea. Ver um livro do William Eggleston assemelha-se a uma aula de fotografia na companhia de um bom professor. Porém, Eggleston não é de modo algum um excelente orador, prova disso são as inúmeras conferências "fracassadas" que contam com a presença do autor, onde cada palavra parece arrancada a ferros. Eggleston prefere que as suas imagens falem por si. Numa entrevista num recente programa de televisão na BBC 4, perguntam-lhe a importância da comida no seu trabalho (existem várias fotografias de Eggleston de pratos de comida) e a resposta de Eggleston foi: É tão importante como dormir.


Tuesday, December 04, 2007

sugestão de Natal

Com a subida da taxa de juros e outros agravamentos financeiros, deixo aqui uma sugestão de um bom investimento. O novo livro do Paul Graham "A Shimmer of Possibility", para quem ainda o conseguir comprar, começa a ser bastante procurado (no stand da Steidl na Paris Photo os 50 exemplares disponíveis esgotaram em duas horas). É uma edição limitada a 1000 exemplares e o mercado americano está a ter dificuldades em encomendar o livro. A Steidl está a fazer um desconto de 25% até Janeiro, algo que já compensa os portes deste livro para Portugal (este livro nunca chegará às Fnacs, podem ter a certeza disso). Por isso, quem quiser fazer um investimento com retorno quase assegurado, deve aproveitar esta oportunidade. O problema é que quando virem os doze livros, vão ter dificuldades em separarem-se deles. Eu pelo menos não o farei. É realmente um conjunto de imagens muito fortes, conceptualmente bastante pertinentes e mais um excelente trabalho de Paul Graham. Deixo aqui um link de uma review ao livro.

Liars


Ontem fui ver um excelente concerto dos Liars. O novo álbum deles (recomendo vivamente) tem uma fotografia que eu considero muito pertinente para quem conhece os concertos desta banda. É uma imagem bastante simples e ao mesmo tempo enigmática. Existem na imagem elementos (referentes) suficientes para se perceber não só o contexto em que a imagem é produzida mas também a filosofia da banda e o tipo de som que os Liars produzem. De certa forma, esta imagem faz-me lembrar algo do eggleston e do robert frank, mas talvez seja eu a divagar. Mais para frente, a razão deste post fará mais sentido. Deixo o link para o site da banda.
Na "luta" entre o digital vs. analógico, tenho que admitir que mudar rolos de médio-formato (120) no meio do público durante um concerto é uma tarefa mais complicada do que a dos fotógrafos equipados com máquinas digitais à minha volta. Porém, quando os vi a editar as imagens (entenda-se: delete) em pleno concerto, já não fiquei com tantas certezas.  


Monday, November 19, 2007

Yoshiyuki Kohei






Por vezes há quem questione o potencial narrativo das imagens fotográficas em relação a outros meios, como o cinema, por exemplo. Esta série de imagens fazem parte de um trabalho intitulado "sex in the park" do fotógrafo Yoshiyuki Kohei. Creio que o potencial destas imagens reside precisamente naquilo que elas não revelam, pela sua estranheza ou pela ausência de uma legenda que nos explique o que se está a passar: onde estamos, a situação é real ou encenada, etc. Todas estas questões e dúvidas que a fotografia levanta são precisamente uma das suas características mais interessantes e que a tornam numa prática tão fascinante, ou seja, a capacidade de criar momentos em suspenso e incompletos.

Deixo em baixo a explicação do fotógrafo sobre este trabalho e desvendo assim o mistério. Fica também um link para um artigo no New York Times, com mais imagens desta série. Enjoy!

Mr. Yoshiyuki was a young commercial photographer in Tokyo in the early 1970s when he and a colleague walked through Chuo Park in Shinjuku one night. He noticed a couple on the ground, and then one man creeping toward them, followed by another.

“I had my camera, but it was dark,” he told the photographer Nobuyoshi Araki in a 1979 interview for a Japanese publication. Researching the technology in the era before infrared flash units, he found that Kodak made infrared flashbulbs. Mr. Yoshiyuki returned to the park, and to two others in Tokyo, through the ’70s. He photographed heterosexual and homosexual couples engaged in sexual activity and the peeping toms who stalked them.

“Before taking those pictures, I visited the parks for about six months without shooting them,” Mr. Yoshiyuki wrote recently by e-mail, through an interpreter. “I just went there to become a friend of the voyeurs. To photograph the voyeurs, I needed to be considered one of them. I behaved like I had the same interest as the voyeurs, but I was equipped with a small camera. My intention was to capture what happened in the parks, so I was not a real ‘voyeur’ like them. But I think, in a way, the act of taking photographs itself is voyeuristic somehow. So I may be a voyeur, because I am a photographer.”

Mr. Yoshiyuki’s photographic activity was undetected because of the darkness; the flash of the infrared bulbs has been likened to the lights of a passing car.

“The couples were not aware of the voyeurs in most cases,” he wrote. “The voyeurs try to look at the couple from a distance in the beginning, then slowly approach toward the couple behind the bushes, and from the blind spots of the couple they try to come as close as possible, and finally peep from a very close distance. But sometimes there are the voyeurs who try to touch the woman, and gradually escalating — then trouble would happen.”

Saturday, November 17, 2007

Guido Guidi





A propósito de um post no blog de Madelena Lello sobre fotografia italiana, deixo algumas imagens do fotógrafo Guido Guidi e um pequeno texto sobre o autor. Na edição deste ano da Photo London, tive a oportunidade de ver vintage prints deste autor e fiquei incrivelmente impressionado com a tonalidade das imagens, que de algum modo me fizeram lembrar as imagens do Luigi Ghirri, pois tratam-se de impressões analógicas em que as cores parecem estar ligeiramente esbatidas e com uma ligeira sobrexposição.

"Since the end of the sixties Guido Guidi photographs ‘still lifes’. First in Black and White and afterwards in colour. ‘Still lifes’ for Guidi are highways, bunkers, empty spaces, abandoned industrial nucleus and the landscape. He knows how to translate them from often ugly places into warm poetic beauty. The play with light and shadow and his perfect eye for detail, gives us a view into a constantly changing world, to which one would not have known it is existing.

The subject is not that important for the artist.
The way he photographs it remains the same.

‘One can perhaps describe photography as a free zone or as an area where the aesthetics hardly was coded and compromised.’
‘I am more interested in the sign of times as for the sign of history. I feel that it is difficult, to photograph space and impossible to photograph time. But the last subject could be a great challenge.


(two quotes from the catalogue ‘‘Im Untergrund/Below Ground Leve/’, an interview from Nanni Baltzer with Guido Guidi. Exhibition in HAUS FÜR KUNST URI, Altdorf, Switzerland)".

Wednesday, October 17, 2007

photos by Shen Wei




Por vezes a navegar na net (algo que começa a ser mais do que um vício e mais próximo de uma doença crónica) encontramos trabalhos que nos fazem parar por uns minutos. Estas imagens pertencem a um fotógrafo de nome Shen Wei e fazem parte de uma série intitulada «almost naked». Os restantes retratos desta série podem ser encontrados no site do fotógrafo. Esta é a minha selecção das imagens que constituem a série, que a meu ver, tratam a questão de identidade, género e desejo sexual. Penso que estas duas imagens são bastante representativas dessa série.

Saturday, October 13, 2007

a shimmer of possibility

Já antes escrevi um post sobre um fotógrafo Paul Graham. Está para breve a publicação de uma nova monografia sua (constituída por 12 volumes) intitulada «A shimmer of possibility», editada pela Steidl. Já tive a oportunidade de folhear um exemplar e recomendo vivamente a compra desta edição limitada a 1000 exemplares (embora com um preço pouco simpático certamente se tornará uma futura peça de colecção).

Este novo trabalho de Graham (que se mudou para Nova Iorque) é de certa forma uma continuação do trabalho anterior «American Night», também realizado nos EUA. Neste trabalho novo, Graham usa uma máquina 6x7 e uma máquina digital para captar instantâneos do quotidiano americano e assim criar pequenas narrativas através de pequenas sequências de imagens. Deixo o link para uma excelente entrevista a Graham a propósito desta nova publicação, onde se fala de Gursky, da liberdade do digital e do seu percurso fotográfico.

Thursday, October 04, 2007

datas do lançamento do livro


Já estão marcadas as datas para o lançamento do livro Unknown Landscapes no Porto e em Lisboa. No lançamento do Porto estará presente o fotógrafo Pedro Letria e o comissário e crítico de arte Miguel von Hafe Pérez. Apareçam.

photography bookshops


Steidlville London



Uma das vantagens de viver numa cidade como Londres são as inúmeras livrarias de qualidade que se encontram. Dentro destas livrarias, existem algumas especializadas em livros de fotografia e que são a minha perdição. Pelo menos uma vez por semana faço a romaria das livrarias, à procura de novos títulos que por vezes vejo anunciados na net mas nada como folhear um livro de fotografia e ver as impressões das fotografias em papel. Para quem vier a Londres, deixo um pequeno itinerário de livrarias cuja visita recomendo:

Em Londres visito sempre a livraria da Photographer's Gallery (8 Great Newport Street, London WC2H 7HY (+44 020 7831 1772) , talvez a com maior número de títulos em stock.

Em Charing Cross existe a Claire du Rouen (First Level, Charing X, 121-125 Charing Cross Road, London WC2H 0EW ( +44 020 7287 1813), uma livraria mais especializada, com uma excelente secção de livros de fotografia japoneses e algumas edições bastante raras. Os preços não são os melhores, mas em alguns casos justificam-se pela raridade dos livros em questão.

Perto de Russel Square existe uma pequena livraria especializada unicamente em livros de fotografia que se chama PhotoBooks. É umas daquelas livrarias que parece já não existir, onde os livros de fotografia estão arrumados por ordem alfabética e ao mesmo tempo existe uma pilha de livros que um dos donos teima em catalogar. Segundo uma conversa que me foi partilhada por um amigo, esta livraria só continua a existir por teimosia e paixão dos mesmos e por de vez em quando sacrificarem a venda de um título raríssimo para pagar a renda do espaço. É uma livraria incrível onde podemos passar horas a percorrer todos os títulos e onde se pode conversar sobre fotografia com alguém realmente apaixonado por livros.

Perto de Russel Square existe a luxuosa Steidlville London (36 Lamb's Conduit Street, London WC1N 3LJ, United Kingdom, tel: +44 207 405 8899) onde podemos encontrar os títulos daquela que eu considero uma das melhores editoras de livros de fotografia. Uma das vantagens desta livraria é que podemos encontrar ainda títulos já esgotados desta editora mas que se encontram em exposição (e podem ser manuseados) no espaço da loja.

Outros espaços merecem uma visita mas ficam estas quatro recomendações. Pergunto-me quando surgirá em Portugal um espaço unicamente consagrado à venda de livros de fotografia. É um negócio bastante arriscado mas creio que com tempo haveriam de surgir um número de compradores fiéis de livros de fotografia.

Deixo o link para um artigo bastante interessante sobre a livraria schaden, na Alemanha, que também vende online e tem um catálogo bastante interessante. Este artigo ilustra de certa forma como é possível arriscar num espaço especializado em livros de fotografia e com uma boa estratégia de marketing e divulgação, tornar uma paixão num negócio por vezes rentável.

Em Portugal, a p4photography lançou-se recentemente na venda e publicação de livros de fotografia. É uma excelente iniciativa e um espaço a consultar.

Sunday, September 23, 2007

Exposição "Antimonumentos"


untitled from the series «Far, Far East» (work-in-progress)

Encontra-se a decorrer a exposição "Antimonumentos", comissariada por Miguel von Hafe Pérez na galeria António Henriques em Viseu. Nesta exposição colectiva, estão presentes 7 imagens novas da série «Far, Far East». É uma exposição cuja visita recomendo vivamente. No site da galeria podem encontrar imagens dos trabalhos em exposição.

"Antimonumentos"
comissariada por Miguel von Hafe Pérez
galeria António Henriques, Viseu

de 15-09-07 a 20-10-07


Saturday, September 22, 2007

back in london and back to work


Estou de volta a Londres depois de mais de 2 meses de viagem pela China e um mês em Portugal.
Da viagem pela China resultaram imagens que irão fazer parte do corpo de trabalho que irei desenvolver ao longo deste ano. Este trabalho faz parte de uma trilogia sobre o Oriente que pretendo desenvolver nos próximos 4 anos. A 1ª parte terá lugar na China, a 2ª no Japão e a 3ª na Coreia do Sul.
Fica aqui a primeira imagem que digitalizei.

Wednesday, August 29, 2007

livro já disponível para venda


A minha primeira monografia tem data prevista de lançamento a 20 de Outubro na galeria MCO, no Porto. Porém pode já ser encomendada em Portugal directamente através de um contacto por email. O custo da publicação é de 20€ mais custos de envio em envelope registado de 5 euros. O envio pode ser à cobrança ou por transfererência bancária. Quem estiver interessado num exemplar, poderá contactar-me directamente pelo meu email: carlosafonsolobo@gmail.com



Saturday, June 02, 2007

livro Unknown Landscapes


É com grande satisfação que apresento a minha primeira monografia. Após um projecto de três anos a fotografar para esta série e mais de seis meses a desenhar e a editar as imagens, tenho em mãos o primeiro exemplar do livro acabado de chegar da gráfica.
Editado pela Chromma, o livro tem 48 fotografias, 96 páginas e textos de Miguel von Hafe Pérez e Ian Jeffrey. O design é de Helder Luís e foi impresso em Portugal na Norprint.

Ainda não tenho uma data prevista para o lançamento, mas como vou estar em viagem nos próximos 3 meses, a data provável será em fins de Setembro.
Para mais informações, podem contactar-me directamente.

Thursday, May 24, 2007

Exposição na galeria Solar


«swimming pool» da série Imaginary Film Sets
© carlos lobo


Inaugura este Sábado pelas 18:00h uma nova exposição minha em conjunto com o João Leal. A exposição terá lugar na galeria de Arte Cinemática Solar, em Vila do Conde. Nesta exposição cujos trabalhos foram criados especificamente para este espaço, irei apresentar trabalhos novos em fotografia, vídeo e instalação. Fica aqui o convite a aparecerem.

Thursday, May 17, 2007

Saul Leiter


© 1959, Saul Leiter


© 1960, Saul Leiter

Quando falamos de autores que recorreram ao uso da cor na fotografia, é normal associarmos nomes como William Eggleston ou Stephen Shore. Mas, como é óbvio, já outros autores faziam uso dos filmes de cor disponiveis comercialmente quer para os profissionais, quer para os designados amadores. Autores como Luigi Ghirri (de quem falei num dos primeiros posts que fiz) e Saul Leiter entre outros.
A Steidl editou muito recentemente um excelente e muito recomendável livro sobre o trabalho a cor de Leiter, intitulado Early Color.

Deixo um pequeno texto em inglês que recolhi de vários sites.

Saul Leiter began his adult life studying at the Cleveland Theological College, but eventually moved to New York to work as a painter. There he began taking pictures, working with 35mm colour on the streets of New York in the late 1940s. Leiter’s work was exhibited by Edward Steichen at the Museum of Modern Art just a few years later, in 1953.

Leiter’s color work was virtually unmatched during the 1940s and 1950s. His improvisational, spontaneous street approach found him floating from one beautiful, often somewhat abstract image to another. This seems a perfect match for the be-bop rhythm of the New York City of his time.

Though he continued to paint, exhibiting alongside Philip Guston and Willem de Kooning, Leiter’s camera became — like an extension of his arm and mind — an ever-present interpreter of life in the metropolis.

Although Edward Steichen exhibited some of Saul Leiter’s color photographs at the Museum of Modern Art in 1953, for forty years afterwards they remained virtually unknown to the art world. Saul Leiter: Early Color provides the first opportunity to see a comprehensive presentation of images by one of photography’s great originals.

Tuesday, May 15, 2007

CPF

Recebi hoje este email que passo a reproduzir:

Queria informar- vos de que tudo o que nós previmos que aconteceria
está a acontecer. E muito rapidamente.

1 - Foi aprovado finalmente há algumas semanas o diploma que regula a
Direcção Geral dos Arquivos que, como sabem, na nova estrutura do MC
integra o CPF. Ao CPF são atribuídas funções apenas na área dos
Arquivos. A ministra foi afirmando, sempre que questionada, que nada
mudaria, que o CPF manteria toda a sua identidade. MENTIU! Aliás era
óbvio que estava a mentir. Mentiu agora, como mentira antes durante a
campanha eleitoral, ao visitar o CPF e dar todo o seu apoio ao CPF,
contra a política do anterior governo.

2 - Como consequência da aprovação do diploma que rege a DGA, o CPF
entrou nessa altura em gestão corrente. À espera da nomeação de uma
nova direcção.

3 - Tal não impediu a ministra de uma intervenção pessoal junto da
directora do CPF, para garantir a realização da exposição que é
mostrada no CPF neste momento! Lá teria as suas razões...

4 - Mas na última 2ª feira, um telefonema seco de um funcionário do
Ministério da Cultura informou a Teresa Siza de que não precisava de
volta ao CPF, na 4ª feira. Hoje portanto! Assim! E pediram-lhe para
informar as outras pessoas que com ela saíam. Desta vez a ministra
'esqueceu-se' do número de telefone da Directora do CPF e não foi
capaz de ter uma atitude, no mínimo de boa educação, e de falar com
ela pessoalmente.

5 - Entretanto a indefinição sobre o futuro do CPF e das pessoas que
lá trabalham continua. Golpe a golpe o CPF é esvaziado de conteúdo,
enquanto nós parecemos ser incapazes de reagir.

por Renato Roque


É triste o que se passa com a cultura no nosso país.

Wednesday, May 09, 2007

Stephen Shore e o CPF


Room 316, Howard Johnson’s. Battle Creek, Michigan, July 6, 1973 © Stephen Shore



Self-portrait, New York, March 20, 1976 © Stephen Shore


Está a decorrer em Nova Iorque uma exposição de Stephen Shore.

11 de Maio a 9 de Setembro , 2007
The International Center of Photography
1133 Avenue of the Americas
New York, NY

Deixo também um link para uma entrevista de Shore na Newsweek sobre esta exposição. Relembro que Stephen Shore aos catorze anos vendeu as primeiras fotografias ao Museum of Modern Art (MOMA). Pergunto-me se isto seria possível em Portugal nos anos setenta ou mesmo agora, quando um museu como o CPF está em vias de fechar... Os puristas da fotografia tremem só de pensar na possibilidade de um adolescente de catorze anos estar representado na colecção de um museu mas não tremem perante a possibilidade de uma instituição única como o CPF estar condenada ao encerramento. Isto explica em parte a pobreza da história e da cultura visual em Portugal. Salazar tem realmente umas costas muito grandes para arcar com todas as responsabilidades. Ou talvez a culpa seja do D. Sebastião...
Apetece dizer: em Portugal inaugura-se um novo centro comercial e encerra-se um centro cultural.


Sunday, April 29, 2007

photobooks



Sou apaixonado por livros de fotografia. A maior parte dos autores que conheço, conheci-os primeiro através das impressões em livros e só depois em alguns casos em exposições. Há autores que nunca vi uma única prova embora conheça várias séries (Paul Graham, por exemplo).

Ultimamente tenho andado ocupado a preparar a edição do meu primeiro livro e como tal, tenho consultado vários livros, a tentar perceber o ritmo e a organização das imagens. Robert Frank, por exemplo, é exímio na edição das suas imagens, não se coibindo de deixar uma imagem mais forte de lado em favor da coerência do seu projecto.
Um outro autor cujos livros aprecio imenso é Alec Soth. O primeiro livro que comprei de Soth intitula-se Sleeping by the Mississippi e é um trabalho bastante poético quer sobre as diferentes localidades nas redondezas do Mississippi mas também sobre diferentes pessoas que Soth encontra na sua viagem.
Deixo uma imagem da maqueta que Soth produziu desse livro, que posteriormente viria a ser editado pela Steidl.
Também eu estou na fase da maqueta do meu livro «Unknown Landscapes».

Saturday, April 28, 2007

Joachim Schmid


Joachim Schmid, from «
Bilder von der Strasse»



Joachim Schmid, from «Photogenetic Drafts»



Joachim Schmid, from «Very Miscellaneous series»


Está presente na Photographers Gallery em Londres a exposição do "fotógrafo" alemão Joachim Schmid. Os parêntesis justificam-se pois Schmid não se considera um fotógrafo e raramente utiliza fotografias que ele próprio tira. O trabalho de Schmid é sim uma reciclagem de fotografias de outras pessoas, e quando digo reciclagem, é disso mesmo que se trata: entre vários trabalhos expostos, Schmid expõe uma série de imagens que encontrou em diferentes cidades (Bilder von der Strasse, série que inicia em1982 e que continua até ao presente), imagens consideradas sem qualquer valor pelos seus antigos donos e por isso mesmo descartadas, rasgadas ou riscadas. Tudo isso interessa ao autor, a razão pela qual uma imagem não é considerada satisfatória ou perdeu o seu valor utilitário (existem várias fotografias tipo passe nesta exposição). Noutras séries também expostas, Schmid trabalha a partir dos negativos ou arquivos de outros fotógrafos para construir uma nova leitura dos mesmos.
Penso que o trabalho de Schmid é acima de tudo sobre Fotografia, sobre as suas múltiplas funções, quer como forma de arte, quer como meio de preservação da memória ou mesmo como elemento identificativo. Por vezes, a história da fotografia remete-nos unicamente para o seu valor artístico mas a Fotografia como ciência e disciplina é muito mais pluridisciplinar e rica. A exposição de Schmid é uma forma de comprovarmos isso mesmo.
Recomendo vivamente o catálogo editado pela Steidl sobre esta retrospectiva, com textos muito interessantes de vários autores como Joan Fontcuberta, também ele um utilizador subversivo da fotografia.


Thursday, April 19, 2007

livro unknown landscapes

O blog tem estado parado pois encontro-me em Portugal a produzir o meu primeiro livro, que conto ter finalizado em Maio. Para a semana voltarei a retomar os posts.

Sunday, April 01, 2007

pares


Todd Hido «Untitled #2314-C» 2002
colour print



Tim Gardner «Untitled (Grey Sky)» 2006
watercolour on paper


Dois trabalhos com semelhanças cromáticas e temáticas, mas em suportes diferentes. Desconheço se Tim Gardner pinta a partir de fotografias, mas os seus desenhos são belas fotografias. Mais trabalhos de Tim Gardner aqui.

Todd Hido por sua vez é um fotógrafo cuja excelente monografia de 2005 intitulada Roaming, publicada pela Nazraeli Press tem imensas fotografias que remetem para pintura, principalmente por Todd Hido fotografar paisagens a partir do interior do seu carro em dias chuvosos, criando um desfoque e uma paleta de cores que remete para a pintura de paisagem.
Fica o link para o site de Todd Hido.

do you believe in the rapture


Link para um excelente vídeo novo dos Sonic Youth realizado por Braden King. O vídeo é uma homenagem à mítica sala de concertos CBGB, recentemente extinta. Este vídeo está também seleccionado para a próxima edição do Indie Lisboa.


Saturday, March 31, 2007

Paul Graham




Paul Graham é um dos meus fotógrafos de eleição. Adquiri recentemente duas excelentes publicações da sua autoria:

Empty Heaven e End of an Age.

São dois trabalhos editados pela extinta Scalo, e impressos pela Steidl, daí que a qualidade das reproduções seja imaculada.
Paul Graham não é um fotógrafo "fácil", no sentido em que as suas imagens são construídas de modo a que a leitura não seja imediata, sendo o sentido delas o resultado da sequência das imagens e do contexto em que foram produzidas. Graham preocupa-se com questões que tanto podem ser políticas (o seu trabalho na Irlanda intitulado Troubled Land é um bom exemplo disso) como a forma como lidamos com a nossa memória do passado.

"From 1988-1992 I was travelling around Western Europe, and became interested in the weight that the past exerts on each society, the burden of history if you like, and how this entwines with daily life - this became a major theme of my work New Europe. These concerns were developed when I travelled through Japan, a society which has a traumatic recent history, to say the least, yet on the surface seemed to reflect a huge collective amnesia. This provoked questions about wrapping, or masking of history and power, and how this is woven into the fabric of conscious and subconscious Japan" Paul Graham

O seguinte link tem um artigo bastante interessante sobre Paul Graham.

"Photography is a medium with a unique and particular link to reality. Previously there was no problem about this, the world was out there, and you simply had to put your camera over your shoulder and go out with an open heart and head to observe this reality. This was the 'old consciousness' if you like. The problem is that over the past two decades our perception of reality has changed from something 'out there' to something 'within us', a blend of external, internal, past and present stimuli, personal and collective beliefs, mediated and original ideas..."

Fica também um link para uma entrevista a Graham a propósito da exposição Cruel and Tender na Tate Modern.


Stephen Shore



Ontem assisti a uma conferência de Stephen Shore, cujo trabalho aprecio bastante. Quem teve a oportunidade de assistir à conferência de Stephen Shore na Gulbenkian o ano passado, pode comprovar a experiência de Shore como conferenciasta, talvez fruto dos seus longos anos de trabalho, quer como fotógrafo, quer como professor e coordenador do curso de fotografia no bard college em Nova Iorque. Ao ver um curto resumo da carreira de Shore durante a conferência, fiquei a pensar por que razão o trabalho de Shore não é tão divulgado e reconhecido. Apesar de a importância da sua obra ser reconhecida pela maioria dos fotógrafos contemporâneos, Shore nunca foi alvo de grandes retrospectivas nos principais museus. Quando questionado por um membro da assistência, se ainda se preocupava com o seu lugar no mercado artístico, este fez uma pausa (Shore nunca responde de imediato, pondera cada resposta por alguns segundos) e diz que embora não ignore o mercado artístico, tem a perfeita noção de que as opções que tomou não facilitaram a sua aceitação no mercado artístico; diz ainda que se quisesse vender mais, teria continuado a trabalhar com a máquina 8x10, o que lhe permitiria fazer grandes ampliações fotográficas (tão em voga no mercado da fotografia contemporânea). Mas não foi essa a sua opção.
O caso do Stephen Shore é mais um exemplo do que o mercado da arte por vezes não é a melhor forma de avaliar a importância da obra de determinados autores, mas sim quais os autores cuja obra sofreram maior especulação e maior visibilidade artística. Não me parece que isto seja uma grande novidade...

Thursday, March 29, 2007

capas dos Sonic Youth


fotografia e música


Eugene Smith «From my Window, I Sometimes Glance»
1957-1958


Os Sonic Youth usam imagens de outros artistas para as suas capas e, por sua vez, também eles são usados por outros artistas, para promover o seu trabalho. A influência entre as mais variadas artes é bastante rica e enriquecedora. Lembro-me por exemplo de W. EUGENE SMITH, que numa fase posterior do seu trabalho, se fechou no seu estúdio a imprimir fotografias e a ouvir discos antigos de Jazz e a fotografar unicamente o que via através da sua janela. Não sei como, mas faz tudo sentido...


Raymond Pettibon


William Eggleston




Raymond Pettibon


Existem associações visuais que me parecem pertinentes, mesmo quando são fruto do mero acaso. Neste caso, não sei se Raymond Pettibon fez o seu desenho a partir da fotografia do Eggleston, ou se simplesmente o modelo da lâmpada é tão universal que se repetem os motivos.
Conheço o trabalho de Pettibon da excelente capa do disco Goo dos Sonic Youth, que ainda hoje me parece uma das melhores capas de discos que já vi. Os Sonic Youth costumam ilustrar os seus discos com obras de artistas; por exemplo, a capa de um outro disco, Daydream Nation, é um quadro de Gerhard Richter.

As capas estão no post seguinte.



Wednesday, March 28, 2007

Bernd and Hilla Becher


Pediram-me há tempos para contar algumas das histórias que ouvi durante o curso de fotografia do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística, o qual tive a oportunidade de frequentar. Foram imensas as histórias partilhadas pelos tutores do curso mas uma em especial ficou-me na memória. Não consigo ser preciso em todos os detalhes mas aqui fica.

O casal Becher costuma viajar durante um período do ano à procura dos seus temas, de modo a poderem construir as suas topologias, quer vão de estruturas industriais a depósitos de água, etc. Nas suas viagens recorrem muitas vezes a velhos mapas tipo Michelin, onde por vezes existem indicações da existência de parques industriais, por exemplo, ou noutros casos deslocam-se de localidade em localidade e, através da memória dos habitantes locais, conseguem as indicações para encontrar outras estruturas que não estão datadas.

Numa dessas viagens por uma localidade rural, não sei agora se em França ou na Alemanha, depararam-se com um velho depósito de água numa propriedade. Apresentaram-se ao proprietário da casa, explicaram-lhe o seu trabalho e tiveram autorização para fazer a fotografia. Mas ao aproximarem-se do depósito de água, apercebem-se de que não conseguiriam ter o melhor ponto de tomada de vista da imagem (a colocação da câmara tem de obedecer a um rigoroso plano de tomada de vista, na maioria dos casos, frontal, para a estrutura topológica dos seus trabalhos resultar): havia um conjunto de pequenas árvores que bloqueavam parte da estrutura. Voltam a falar com o dono da casa e explicam-lhe a situação. Com o seu consentimento, encontram uma solução: cortar as árvores. Importa aqui realçar que os Becher não trabalham com assistentes e não são propriamente um casal novo, mas sim já com alguma idade. Assim, para a tomada de uma única fotografia, Bernd Becher passa o dia a cortar as árvores que obstruíam a estrutura para construir uma única imagem.

Acho esta história é significativa para melhor entender a forma séria e dedicada de trabalhar dos Bechers. Por vezes as melhores imagens não se encontram por mero acaso mas há que ir à procura delas. E mesmo quando as encontramos, há que saber contornar os eventuais obstáculos que se colocam aquando da tomada de uma imagem, sejam umas "simples" àrvores, seja todo o manancial de referências visuais que por vezes nos toldam a mente.

Há ocasiões em que a prática fotográfica não é tão literal como o anúncio da Kodak: Just point and shoot, and we'll do the rest.

Thursday, March 22, 2007

Hannah Starkey




Vi há pouco tempo uma exposição da Hannah Starkey na galeria Maureen Paley em Londres. Starkey encena todas as suas imagens e o seu trabalho versa sempre o universo feminino. Esta exposição apresentava trabalhos novos que podem ser consultados no site da galeria.

www.maureenpaley.com

No entanto, há um grupo de imagens de Hannah Starkey que me ficaram na mente desde o momento em que as vi pela primeira vez. É um conjunto de imagens que a autora realizou em 1999 (os títulos das imagens são sempe as datas em que são realizadas) sobre adolescentes. Existe uma espécie de tempo suspenso nestas duas imagens que me fascina. A narrativa das imagens é completamente aberta, o que nos permite as mais variadas interpretações sobre as relações entre as personagens e o espaço físico da imagem. Um outro factor bastante importante é o facto das imagens, apesar de encenadas, manterem uma estética de snapshot, como se o momento que estamos a presenciar fosse algo fortuíto, um acaso feliz. Não há aqui instantes decisivos bressonianos mas sim encenações decisivas.


Monday, March 19, 2007

Brian Lestberg & Jeff Wall


"An Octopus" (1990), Jeff Wall





Two Pheasants, McClusky, ND, (2005), Brian Lestberg



A história da fotografia, tal como outras artes, está repleta de referências visuais que provêm das mais variadas esferas. Por sua vez, o nosso vocabulário de imagens é cada vez mais vasto ( a internet, por exemplo, tornou o acesso às fontes de informação mais fácil). Como muitas referências são as mesmas (mestres da pintura, por exemplo), há trabalhos que se aproximam, quer pela temática, quer pela composição.

As duas imagens em cima são bastante interessantes pois apresentam uma composição bastante semelhante: são duas naturezas mortas, e em ambas as imagens existe uma iluminação artificial e um enquadramento (composição) clássico. Não sei se a fotografia de Brian Lestberg foi influenciada pela imagem de Jeff Wall, que por sua vez foi influenciado pelos pintores clássicos. O fascínio de ambas as fotografia é para mim mais importante do que a questão de saber quem é o original ou quem é a cópia.


daido moriyama part2



Para quem estiver interessado no trabalho do Moriyama, existe uma publicação dos trabalhos dele intitulada Daido Moruyama Remix, que compila algumas das suas séries. Muito recomendável.


Daido Moriyama e os fotógrafos japoneses


Nobuyoshi Araki






daido moriyama


Ainda a propósito dos fotógrafos japoneses, há uma publicação da Aperture intitulada Setting Sun: writings by japanese photographers. Trata-se de uma compilação de textos de fotógrafos como Daido Moriyama, Nobuyoshi Araki, Masahisa Fukase, Shomei Tomatsu, entre outros.

Num dos textos, Daido Moriyama fala do seu processo de trabalho:

"And while I'm travelling, I take photographs that are guided by my feelings and physical obsessions or fetishes, so my pictures often have nothing to do with local character and universality. But I am not interested in capturing the character and «universality» of a place, even if it is the place to which I chose to travel. In other words, photographs I take while on a trip are the commemoration of the fact that I
existed in that place or that I happened to see something there - they are not the commemoration of my visit."


É interessante ler estes textos e perceber a relação «quase» zen que alguns dos fotógrafos japoneses estabelecem com a imagem. É interessante também perceber como muitos destes autores optam por trabalhar nas zonas onde vivem, como se estivessem fisicamente «presos» à realidade que os rodeia. É como se fotografassem não para viver, mas antes como se vivessem para fotografar.

Friday, March 09, 2007

wolfgang tillmans





Por vezes morar numa grande capital permite encontros bastante inesperados. Esta semana decidi ir à zona de Bethnal Green fazer uma fotografia de um espaço que me tinha ficado na mente desde que lá tinha ido. Quando me dirijo à rua onde se situa a galeria Maureen Paley, deparo-me com o fotógrafo Wolfgang Tillmans. Apresentei-me e tivemos uma pequena conversa, tendo ele me recomendado a visita à pequena galeria que ele dirige, situada no seu estúdio.
Fica aqui o link:

www.betweenbridges.net

É sempre agradável quando conhecemos alguém cujo trabalho admiramos e essa pessoa é simpática e acessível. Wolfgang Tillmans é uma dessas pessoas. Acredito que o trabalho dele seja reflexo disso.

Gabriel Orozco


"Atomists: Making strides (in 2 parts)"
Gabriel Orozco


Ainda a propósito do post «artist using photography», a citação abaixo transcrita de Gabriel Orozco é um bom exemplo do enorme abrangência não só utilitária como também conceptual da fotografia.


“Looking through the lens of the camera doesn't intensify experience. It just frames the object. It's much more intense without the camera. For me photography is like a shoebox. You put things in a box when you want to keep them, to think about them. Photography is more than a window for me; photography is more like a space that tries to capture situations. It's notational. I use the camera like drawing.” — Gabriel Orozco